Não podemos mudar o passado, nem podemos viver no futuro, tudo o que temos é o tempo presente e quando ele nos fere nos escondemos do tempo.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
sábado, 23 de setembro de 2017
São os atos banais da vida que me incomodam, pisar nas mesmas calçadas, caminhar pelas mesmas ruas, sentar nas mesmas cadeiras, olhar para as mesmas paredes, deitar na mesma cama, usar os mesmos cobertores. Sentar na ponta da mesa e assumir as panelas de ferro, picar cebolas e confeitar bolinhos amargam minha boca, pintar as unhas dos pés de vermelho e usar aquele velho vestido de flores coloridas.
Pendurar um quadro na parede azul do quarto foi um ato de coragem, algo que exigiu de mim muitos dias de reflexão, diversos aconselhamentos e uma pitada de fé, em alguns dias olho para mulher que repousa calmamente sobre as rosas vermelhas com sua boca delicada e olhos pequenos e sinto por não partilhar de tal paz. A vida me violentou, me tornou um sorriso emoldurado em coração obstruído, partido em dois pedaços, contra todas as razões ele insiste em me fazer saudosa e melancólica.
Fui capturada por um espaço de tempo no qual os travesseiros tinham cheiro amadeirado e espalhadas pelo quarto poderia encontrar garrafas de água pela metade e papeis de bala cuidadosamente deixados nas prateleiras. É o cotidiano que me engole, pois não posso mais escutar o barulho do motor do carro, nem sentar nas mesmas mesas de bar; como um ladrão vil você furtou meu sossego me deixou nua e assustada por não conseguir viver em um mundo que antes me pertencia e agora perdeu a identidade e o significado.
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
O espaço é lugar de afeto, é onde desenhamos nossas vidas, cada coisa que tocamos, cada roupa que vestimos cria significado.
Hoje eu não sei mais andar em minha casa e nem nas ruas da minha cidade, abrir as janelas de meu quarto é doloroso.
Você me tirou o direito de ir e vir, esse não é mais o meu lugar, você me arrancou todo significado de viver e não creio que exista justiça em não conseguir sorrir. Meu quarto de paredes azuis, minha cama confortável, meus livros, tudo isso deixou de ser espaço de amar.
Você não tinha o direito de me fazer amar se não tinha a pretensão de ficar, não visto mais as velhas camisas, não como os mesmos pratos e nem frequento os mesmos bares. Você abusou, levou a beleza do mundo consigo e agora o que faço de mim?
Hoje eu não sei mais andar em minha casa e nem nas ruas da minha cidade, abrir as janelas de meu quarto é doloroso.
Você me tirou o direito de ir e vir, esse não é mais o meu lugar, você me arrancou todo significado de viver e não creio que exista justiça em não conseguir sorrir. Meu quarto de paredes azuis, minha cama confortável, meus livros, tudo isso deixou de ser espaço de amar.
Você não tinha o direito de me fazer amar se não tinha a pretensão de ficar, não visto mais as velhas camisas, não como os mesmos pratos e nem frequento os mesmos bares. Você abusou, levou a beleza do mundo consigo e agora o que faço de mim?
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Uma das coisas que aprendi com minha vó é que fazer faxina é essencial.
Você começa abrindo grandes e velhos armários antigos e despeja tudo no chão, olha bem para a bagunça de gavetas abertas e roupas que não cabem e começa a trabalhar.
Primeiro sentimos nostalgia pois vemos aquele vestido azul de lindas flores que cabia tão bem, olhamos aquele quadro que nos foi dado de presente e por fim achamos aquele anel dourado que nos trazia um certo ar de realeza.
Limpar gavetas é também limpar a alma, é deixar para trás o passado e abrir as portas para um futuro que se apresenta.
Sempre temi arrumações, porque no fundo eu sabia que abrir mão do passado era um ritual de passagem muito dolorido, por diversas vezes me agarrei aos cobertores coloridos, ursos de pelúcia e cartas amareladas.
O medo de jogar a poeira do que não servia tomava conta de mim ao me desfazer das velhas roupas que não cabiam mais, como historiadora por profissão e alma me agarrava aquele passado que existiu em meu faz de conta.
Mas, hoje me empodero dos conhecimentos longínquos e limpo os armários, abro as janelas e brado pelo sol que se descortina no amanhã, abro mão da sensação de controle e escancaro as portas para vida, sejam bem vindos o presente e o futuro!
Você começa abrindo grandes e velhos armários antigos e despeja tudo no chão, olha bem para a bagunça de gavetas abertas e roupas que não cabem e começa a trabalhar.
Primeiro sentimos nostalgia pois vemos aquele vestido azul de lindas flores que cabia tão bem, olhamos aquele quadro que nos foi dado de presente e por fim achamos aquele anel dourado que nos trazia um certo ar de realeza.
Limpar gavetas é também limpar a alma, é deixar para trás o passado e abrir as portas para um futuro que se apresenta.
Sempre temi arrumações, porque no fundo eu sabia que abrir mão do passado era um ritual de passagem muito dolorido, por diversas vezes me agarrei aos cobertores coloridos, ursos de pelúcia e cartas amareladas.
O medo de jogar a poeira do que não servia tomava conta de mim ao me desfazer das velhas roupas que não cabiam mais, como historiadora por profissão e alma me agarrava aquele passado que existiu em meu faz de conta.
Mas, hoje me empodero dos conhecimentos longínquos e limpo os armários, abro as janelas e brado pelo sol que se descortina no amanhã, abro mão da sensação de controle e escancaro as portas para vida, sejam bem vindos o presente e o futuro!
terça-feira, 4 de abril de 2017
Khronos e eu
Todos os dias eu me levantava escova os dentes e saía quintal afora, depois de correr pelos pomares até a exaustão, seguia para banho, vestia roupa, almoçava e junto com minha linda pasta de couro preta e meu potinho rosa e branco rumava pelo calipiá na companhia de minha tia para escola.
No final do dia, depois de ter corrido durante todo recreio e criado mil e uma histórias, vivendo longas horas na minha cabeça, tornava a passear pelas árvores do reflorestamento voltava para minha casa. Nos finais de tarde via televisão de cabeça para baixo, me escondia entre as azaleias e outras árvores: salvava o mundo, fazia experimentos em meu laboratório, onde misturava pasta de dente, enxaguante bucal e qualquer outra coisa.
Relembrar minhas andanças de patins na área da casa e a história do saci que se escondia no bambuzá transcende o ato mnemónico, pois ao refletir sobre minhas aventuras, sobre minha vida em um tempo nem tão longínquo, penso sobre o tempo e a liberdade.
Notei que enquanto eu estendia roupa, pensava sobre o trabalho, a pesquisa, a produção, o mundo, a miséria, a solidão.... Não vivo mais o tempo presente, estou presa em um vórtex, viajo ou me escondo no passado e no futuro, não sou dona do meu tempo, perdi a minha soberania.
Luto contra esse processo incessantemente e com toda força que me restou, sempre me pergunto se posso ser livre se meu tempo não é meu? Ele é do capital, ele é dos outros, ele é da produtividade, está encaixotado entre deveres, disciplinas, padrões de consumo.
Gostaria de saber para onde foi o desejo?
Quando foi que comecei a ser devorada pelo titã do tempo? Quando ele me mastigou e me cuspiu como criatura morta, como sombra?
Não! Não quero e nem posso me render a violência do tempo dividido, disciplinado, que não permite ver o hoje, que não permite, nem o sonho, nem o desejo.
Recomeço minha busca quixotesca para ser senhora do meu tempo, da minha vontade, enfim ser senhora de mim.
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