sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

casa

Na vitrola está rolando aquele som de quando os dez anos eram presentes... Aquele som que o irmão mais velho vem mostrar, dizer ouve isso aí que é uma coisa que vale a pena.
Se revirar os guarda-roupas nem fotos, nem nada, mas muito daqueles brinquedos dos dez anos ou menos. Aquele cachorro sniff-sniff que era sucesso entre dez e dez garotas aos dez anos. Os cães já não são mais os mesmos, nada da Diana do Boca Livre com suas manchas e seu olhar de passado. Ali naquele quintal vazio fica apenas uma reforma pela metade, uma chuva esperada junto as guimbas de cigarros, junto a uma ausência nunca compensada.
Nessa casa que um dia foi lar, nada de primos ou aparelho de som na sala que tocava o doce Chocolate, nada de tardes de domingos e piscina de quintal armada.
Nessa casa sem vós para pentear cabelos e falar sobre o bairro da Estiva, nada de tios para falar sobre o Rio de Janeiro, nem mesmo um passo firme para corromper e dar canivetes.
Hoje os mineiros cantam em uma casa vazia de vida, vazia de gente. Hoje a poesia encontra um vácuo.
Não se encontra hoje o consolo  de um berro, de um grito, apenas um silêncio incômodo. Não resta apelido algum, coração algum, sobra hoje um remedo de alegria. Junta-se hoje a alegria um riso sem graça hora triste, hora vago. Não se corre mais na lotérica, não se corre no quarto, não se empurra carro.
Nessa casa ninguém ouve o chinelo arrastando, nem mesmo sente-se o cheiro de mato, nem os cavalos andam atrás de uma sombra envelhecida.
Essa é uma casa de lembranças, gente que não ficou e gente que teve que ficar, casa de cômodos vazios e gente solitária que se une e se separa.