sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O coração com trilha sonora

Alguém me disse que o amor sem trilha sonora de nada vale. Mas, acho que  o amor sem trilha sonora seria menos dolorido nas ausências que nos trazem por aí.
Estou olhando os discos nas paredes do quarto e pensando o que eu farei com eles. Assim como eu penso o que será feito de todos os papeis de doces, os desenhos, os bilhetes, os livros e aquilo que é trocado. O que se faz com os cobertores?
O amor não deveria ter trilha sonora. Ele deveria ter apenas canções de felicidade, não aquelas de medo, não aquelas de saudades, de fato são belas, mas são tão doloridas. Elas apenas inspiram a escrever aos desconhecidos sobre uma dor que se faz companheira. Você realmente desejaria que alguém viesse curar suas feridas, imagina o quanto seria lindo se ele estivesse ali de cabelos umedecidos com os braços bem abertos para acolher nos longos braços seu corpo dolorido da viagem.
Quantas vezes você irá olhar para desconhecidos e chorar, quantas vezes você irá disfarçar a dor, quantas trilhas sonoras serão necessárias para doer mais ainda.
Mas amor para ser amor deve ser dolorido regado pelo álcool e com aquela trilha sonora, da primeira noite de blues juntos, do primeiro beijo na beira da escada?
E me entrego a minha trilha sonora, pedindo para você voltar, recolhendo os cacos do que me resta, imaginado acordos que criariam a paz até mesmo no Oriente Médio.
O amor não deveria ter trilha sonora, abriria uma exceção para ter trilha sonora de quando seus longos dedos entrem pelos meus cabelos, aí nas noites de amar o amor deveria ter trilha sonora.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

casa

Na vitrola está rolando aquele som de quando os dez anos eram presentes... Aquele som que o irmão mais velho vem mostrar, dizer ouve isso aí que é uma coisa que vale a pena.
Se revirar os guarda-roupas nem fotos, nem nada, mas muito daqueles brinquedos dos dez anos ou menos. Aquele cachorro sniff-sniff que era sucesso entre dez e dez garotas aos dez anos. Os cães já não são mais os mesmos, nada da Diana do Boca Livre com suas manchas e seu olhar de passado. Ali naquele quintal vazio fica apenas uma reforma pela metade, uma chuva esperada junto as guimbas de cigarros, junto a uma ausência nunca compensada.
Nessa casa que um dia foi lar, nada de primos ou aparelho de som na sala que tocava o doce Chocolate, nada de tardes de domingos e piscina de quintal armada.
Nessa casa sem vós para pentear cabelos e falar sobre o bairro da Estiva, nada de tios para falar sobre o Rio de Janeiro, nem mesmo um passo firme para corromper e dar canivetes.
Hoje os mineiros cantam em uma casa vazia de vida, vazia de gente. Hoje a poesia encontra um vácuo.
Não se encontra hoje o consolo  de um berro, de um grito, apenas um silêncio incômodo. Não resta apelido algum, coração algum, sobra hoje um remedo de alegria. Junta-se hoje a alegria um riso sem graça hora triste, hora vago. Não se corre mais na lotérica, não se corre no quarto, não se empurra carro.
Nessa casa ninguém ouve o chinelo arrastando, nem mesmo sente-se o cheiro de mato, nem os cavalos andam atrás de uma sombra envelhecida.
Essa é uma casa de lembranças, gente que não ficou e gente que teve que ficar, casa de cômodos vazios e gente solitária que se une e se separa.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eu e as Conjunções

Adquiri um hábito durante a graduação, de reler tudo aquilo que foi escrito um tempo depois, de um hábito cientifico, tornou-se uma mania, um sentimentalismo. Aquelas coisas que  eu faço quando não tenho muito para fazer e muito a pensar. Revendo esse blog com todas as minucias de crueldade notei o quanto meus textos são pautados de conjunções adversativas, cheio de pausas. Fiz uma busca muito pequena em meus devaneios e descobri que sou lotada de "contudos" porque aqui dentro tudo reina como uma balburdia.
Tomei decisões cheia de certeza, PORÉM, na mesma academia em que apreendi a revisitar meus pensamentos de forma crítica, também entendi que somos contradições que andam, falam e amam.
Ainda não consigo conceber essa ideia que me parece um bichinho incomodo e, quando olho aquelas letras que juntei em um espaço, em tempo ainda não entendo como meu coração se fez, ou mesmo se refez. Tento interpretar um passado que me foi caro, como aos 18, aos 21 para um breve salto aos 27 ou mesmo aos 26 tomei caminhos que hoje não reconheço. Mesmo que eu tivesse medo, gritasse coragem, lá estavam as conjunções me oferecendo as mãos para darmos um passeio.
Ainda em meio liquidez parafraseando um certo autor, revejo e percebo uma constante na qual me perdi, da qual voltei faz tão pouco tempo e cá entre nós apenas voltei porque aquele que me guardava as incertezas hoje não pode mais me deixar caminhar pelo meu desconhecido campo, mundo aquele com o qual eu me comunicava apenas quando "sim", insistia em transformar-se "mas".

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

sobre passado saudoso, idealizado e junto aos melhores amigos...

Eu passei uma manhã, uma tarde e uma noite olhando fotografias de um tempo passado, sempre me sentindo saudosa. Então achei de bom tom comprar uma garrafa de vinho branco e ouvir Bethânia olhando para os bichos no quintal, meu vizinho dedilhava ao piano Gardel.
Não comprei o vinho, já que afinal de contas eu nem gosto assim de vinho, pensei então em uma cerveja bem gelada com a mesma música, entretanto uma boa companhia cairia bem, nós poderíamos falar sobre a vida, filosofia, as novas formas de humor e último quadrinho do Batman, que cá entre nós é alucinante.
nem um nem outro preferi me esconder em meu quarto e fantasiar vendo alguns filmes.
Acredito que tenha percorrido muitos caminhos difíceis, mas nenhum deles é como agora e mais  não sei se estou fazendo as coisas certas, já que tenho dias de profunda tristeza que não consigo explicar muito menos disfarçar, é como se alguma coisa dentro de mim dissesse que tudo vai ficar bem, mas eu por mais que corra não chego a nada.
Essa deveria ser uma carta escrita a punho, postada para que você cheia de emoção e saudades lesse, me respondesse, para dizer que tudo vai ficar bem que eu devo me reerguer.
Lembrei das inúmeras prozas de bar, das tentativas de parar de fumar, de mudar de vida, de viajar, dos dias em que você me vestiu e me aprontou e me mandou viver, me disse que eu deveria ser mais sensível, ler mais e praticar mais esportes.
Pois é, ainda não consigo fazer muitas coisas, ainda fico preocupada com aqueles ao meu redor, mas ainda torno tudo difícil por temer que me vejam.
Acho que não sei passar batom ainda, nem combinar roupas, nem ter uma tarde olhando o céu de bobeira, acredito que isso iria me matar de medo.
Sinto tanto sua falta, queria tanto poder entrar naquele ônibus e ver alguns bons filmes e bater uns retratos aqui acolá, porque ainda não compreendo meu caminho. Me sinto tão solitária, tão sem chão. Desejo profundamente conversar com você, sair para discutir a fome, o feminismo, as relações humanas e as saudades, até a chata da Magalhães eu tenho ouvido só para me lembrar de como as coisas eram de como sobreviver a vida que tem me dado tanto pavor, tanto susto.
Deixo me abraço terno e um sentimento de imensas saudades daquele passado recente que idealizei, sobre os sonhos de felicidade e sucesso que compartilhamos, bons amigos, boa vida. Também deixo o desejo de voltar, quem sabe nós bateríamos papo e você conhecesse o moço com quem me permito ser doce e dormir tranquilamente.
Espero poder não só sobreviver, mas também viver novamente, ter planos para um dia que virá, que um dia a gente se visite para dividir o bom e ruim.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Jovem ainda?

Existem alguns sinais de que você envelheceu, dentre eles estão os seguintes: os filmes os quais acompanhou o lançamento passam cotidianamente na TV, você pensa em ir a lugares onde possa sentar, guarda dinheiro para ir a um bom médico, vai ao supermercado com frequência, tem contas em diversos bancos ( preocupa-se com cheque especial, cartão  empréstimos). Contudo o maior e mais assustador de todos os sinais é a mudança de papel que você irá dramatizar, quando o papel cuidado deixa de ser coadjuvante para que você assuma o papel principal aquele de quem cuida.
Existem poucas coisas que encantem mais uma menina de sete ou oito anos do que seu pai, ou melhor o que a figura paterna será durante uma certa estada ou quem sabe por toda sua existência. É ali, justamente naquele espaço entre dos braços que reside toda a segurança que busca, ela irá te proteger das quedas de bicicleta, dos primeiros beijos, das primeiras decepções afetivas, das primeiras escolhas, dos primeiros empregos. É apenas ali naquele pequeno território que irá residir toda compreensão.
Hoje depois de algum tempo, ainda tento me lembrar de como me desgarrei daquele espaço, acredito que foi um processo lento, como o cozimento de um doce, que me afastou daquele espaço. Mas ainda sinto como e quando isso aconteceu de forma drástica. Eu comecei dormindo sem avisar, depois comprei cigarros, algum tempo depois dormia fora, pintei cabelos e unhas e quando me dei por mim... tomava café de forma adulta, tomava ônibus e nem sequer pedia para ser espera.
Fui abandonando gradativamente as pequenas flores de cabelo ( que hoje só ocupam espaço nas gavetas) arrumei minha cama, voltei mais cedo para casa e conscientemente tentei abandonar alguns pequenos sonhos.
De um dia de sol fiz um chuvoso, não era permitido chorar, muito menos espernear,  não era permitido ver desenhos do Xerife Pepe Legal, não era permitido não cumprir obrigações na preguiça do dia.
De uns meses para cá assumi o papel de quem esconde cabelos brancos e rugas aqui ali. Depois de umas semanas para cá nem nada de bobagens e discussões, de uns dias para cá, nada dessa besteira de chorar ou de rir. Em um dia abandonei os dentes levemente separados os calcanhares finos, os pequenos brinquedos, e as visitas na padaria.
Um dia cá outro para lá... assim que se faz gente grande, para ler jornais sérios, pagar contas, fazer diplomacia, cuidar de quem passa, assim se faz gente grande quando se deixa de comemorar aniversáio com bolo. Assim se faz quem vai crescer.