sábado, 23 de setembro de 2017

São os atos banais da vida que me incomodam, pisar nas mesmas calçadas, caminhar pelas mesmas ruas, sentar nas mesmas cadeiras, olhar para as mesmas paredes, deitar na mesma cama, usar os mesmos cobertores. Sentar na ponta da mesa e assumir as panelas de ferro, picar cebolas e confeitar bolinhos amargam minha boca, pintar as unhas dos pés de vermelho e usar aquele velho vestido de flores coloridas.
Pendurar um quadro na parede azul do quarto foi um ato de coragem, algo que exigiu de mim muitos dias de reflexão, diversos aconselhamentos e uma pitada de fé, em alguns dias olho para mulher que repousa calmamente sobre as rosas vermelhas com sua boca delicada e olhos pequenos e sinto por não partilhar de tal paz. A vida me violentou, me tornou um sorriso emoldurado em coração obstruído, partido em dois pedaços, contra todas as razões ele insiste em me fazer saudosa e melancólica.
Fui capturada por um espaço de tempo no qual os travesseiros tinham cheiro amadeirado e espalhadas pelo quarto poderia encontrar garrafas de água pela metade e papeis de bala cuidadosamente deixados nas prateleiras. É o cotidiano que me engole, pois não posso mais escutar o barulho do motor do carro, nem sentar nas mesmas mesas de bar; como um ladrão vil você furtou meu sossego me deixou nua e assustada por não conseguir viver em um mundo que antes me pertencia e agora perdeu a identidade e o significado.
 

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