Existem alguns sinais de que você envelheceu, dentre eles estão os seguintes: os filmes os quais acompanhou o lançamento passam cotidianamente na TV, você pensa em ir a lugares onde possa sentar, guarda dinheiro para ir a um bom médico, vai ao supermercado com frequência, tem contas em diversos bancos ( preocupa-se com cheque especial, cartão empréstimos). Contudo o maior e mais assustador de todos os sinais é a mudança de papel que você irá dramatizar, quando o papel cuidado deixa de ser coadjuvante para que você assuma o papel principal aquele de quem cuida.
Existem poucas coisas que encantem mais uma menina de sete ou oito anos do que seu pai, ou melhor o que a figura paterna será durante uma certa estada ou quem sabe por toda sua existência. É ali, justamente naquele espaço entre dos braços que reside toda a segurança que busca, ela irá te proteger das quedas de bicicleta, dos primeiros beijos, das primeiras decepções afetivas, das primeiras escolhas, dos primeiros empregos. É apenas ali naquele pequeno território que irá residir toda compreensão.
Hoje depois de algum tempo, ainda tento me lembrar de como me desgarrei daquele espaço, acredito que foi um processo lento, como o cozimento de um doce, que me afastou daquele espaço. Mas ainda sinto como e quando isso aconteceu de forma drástica. Eu comecei dormindo sem avisar, depois comprei cigarros, algum tempo depois dormia fora, pintei cabelos e unhas e quando me dei por mim... tomava café de forma adulta, tomava ônibus e nem sequer pedia para ser espera.
Fui abandonando gradativamente as pequenas flores de cabelo ( que hoje só ocupam espaço nas gavetas) arrumei minha cama, voltei mais cedo para casa e conscientemente tentei abandonar alguns pequenos sonhos.
De um dia de sol fiz um chuvoso, não era permitido chorar, muito menos espernear, não era permitido ver desenhos do Xerife Pepe Legal, não era permitido não cumprir obrigações na preguiça do dia.
De uns meses para cá assumi o papel de quem esconde cabelos brancos e rugas aqui ali. Depois de umas semanas para cá nem nada de bobagens e discussões, de uns dias para cá, nada dessa besteira de chorar ou de rir. Em um dia abandonei os dentes levemente separados os calcanhares finos, os pequenos brinquedos, e as visitas na padaria.
Um dia cá outro para lá... assim que se faz gente grande, para ler jornais sérios, pagar contas, fazer diplomacia, cuidar de quem passa, assim se faz gente grande quando se deixa de comemorar aniversáio com bolo. Assim se faz quem vai crescer.
sábado, 4 de janeiro de 2014
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se eu pudesse escolher, seria pra sempre criança. como não posso, me esforço para tentar olhar o mundo com os olhos de uma criança, para que a vida seja mais leve e colorida.
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