Como um personagem de filme antigo, chego em minha casa com um casaco negro e pesado de inverno. Observo o céu nublado que esconde os fios de luz da lua.
Sirvo uma dose generosa de wisky em um copo bonito dos tempos de casamento da minha mãe. Sem nenhuma pedra de gelo sorvo aquele liquido em pequenos goles. A música para acompanhar o fim de mais um dia não seria outra se não aquela música, seria um bolero? Sei que ela é cubana.
Desenho uma longa cena do cinema em minha cabeça. Protagonizo um filme de uma mulher triste exausta.
A voz de Efrain canta mansa uma melodia triste em uma língua que conheço pouco. A realidade é que a cena não é muito glamourosa, pois estou sentada em uma cadeira velha de metal, escrevo sobre a pia da cozinha.
Não existe batom em meus lábios, nem alguém que chegará repentinamente para falar sobre as dores e os medos que me atormentam.
Na companhia dos cães que se aninham no tapete em frente a geladeira, tento digerir mais um dia, mais uma semana, mais uma dor e mais um fio de esperança.
Outro gole, de cotovelos pousados na pia de metal. A ultima olhadinha nos rascunhos que serão publicados para ninguém ler. Outra olhada furtiva pela janela, o jornal da noite atrapalha a orquestra cubana. A cachorrinha espreguiça. Escrevo meia duzia de coisas. Mais um pequeno descanso, a cabeça encosta nos braços, me arrepio, penso nas cenas tristes no decorrer da semana, penso nas boas coisas.
Encerro mais alguns dias.
Faço alguns planos de morar em outro estado, em outro país. Penso em me aventurar e mudar o mundo e encerro um texto trivial com mais uma pequena dose, mais um sonho, uma outra canção.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
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